Referencial Teórico 

A enfermagem atua quando são identificados déficits para o autocuidado, estabelecendo com o paciente o seu plano de ação, envolvendo o estabelecimento da responsabilidade do enfermeiro, paciente e outros profissionais, no atendimento das demandas terapêuticas para o autocuidado (Dororothea orem, 1991).

O regente do Ensino Clínico em Situação de Défice no autocuidado, os restantes professores e os assistentes convidados, elaboraram um guia de recolha de informação, essencial para a colheita de dados necessários, para a realização dos casos clínico, embora tenham sido utilizados mais instrumentos de avaliação, como por exemplo, a Escala de Morse e a Escala de Glasgow.

A realização deste documento tem como base dois modelos teóricos essenciais, para melhor compreensão e interpretação do estudo envolvente.


TEORIA DO AUTOCUIDADO DE DOROTHEA OREM

Segundo Orem (1983), autocuidado consiste, na prática de atividades que os indivíduos realizam em favor de si mesmos, para manter a vida, a saúde e o bem-estar. Isto é, são ações intencionais, aprendidas, realizadas sucessivamente para satisfazer a necessidades em cuidados.

Os enfermeiros procuram a satisfação das necessidades humanas fundamentais e a máxima independência na realização das atividades da vida, a adaptação funcional aos défices e a adaptação a múltiplos fatores (Ordem dos Enfermeiros, 2003).

A enfermagem tem como preocupação a necessidade de ações de autocuidado do individuo e a oferta do controlo desse autocuidado, assim surgiu, segundo Dorothea Orem, a Teoria do Autocuidado, subdividida em três subteorias: a Teoria do Autocuidado, a Teoria do Défice do Autocuidado e a teoria dos Sistemas de Enfermagem.

A teoria do autocuidado descreve e explica a prática de cuidados executados pela pessoa portadora de uma necessidade, para manter a saúde e o bem-estar, fornecer meios para o desenvolvimento contínuo e para funcionar de acordo com as normas compatíveis com as condições essenciais à vida; e manter as condições necessárias à garantia do funcionamento integrado e do desenvolvimento humano individual e de grupo (Orem, 2001).

Existem três tipos de requisitos do autocuidado: Requisitos de Autocuidado universal- associados aos processos de vida e ao bem-estar, estão presentes em todos os indivíduos; Requisitos de autocuidado de desenvolvimento- associados ao estado de desenvolvimento em que cada individuo se encontra; Requisitos de autocuidado relacionados com alterações da saúde- associados a desvios do funcionamento.

Os Requisitos de autocuidado universais são: a manutenção de uma quantidade suficiente de ar, a manutenção de uma ingestão suficiente de água, a manutenção de uma ingestão adequada de alimentos, a provisão de cuidados associados aos processos de eliminação, a manutenção do equilíbrio entre o descanso e a atividade, a manutenção do equilíbrio entre o isolamento e a interação social, a prevenção de riscos para a vida, funcionamento e bem-estar humanos, por fim, a promoção do funcionamento e desenvolvimento humano dentro de grupos sociais de acordo com o potencial humano.

A Teoria do Défice de Autocuidado foi essencial na teoria geral de enfermagem de Orem. O défice de autocuidado é uma relação entre as capacidades de ação de um individuo e as necessidades de autocuidado. Isto é, o défice de autocuidado resulta da relação entre as ações que um individuo exerce ou deveria exercer e a sua capacidade de fazê-lo. Segundo esta teoria existem cinco métodos de ajuda: agir ou fazer para o outro, guiar o outro, apoiar o outro, proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal e ensinar o outro.

Por fim, a Teoria dos Sistemas de Enfermagem, baseada na necessidade de autocuidado e nas capacidades de realização de autocuidado do utente. Orem identificou três classificações de sistemas de enfermagem: Sistema totalmente compensatório, Sistema Parcialmente compensatório, Sistema de apoio educativo.

No sistema totalmente compensatório, a pessoa não tem recursos para realizar o autocuidado, então o enfermeiro assume a total responsabilidade nos autocuidados, é esperado, que o enfermeiro realize todas as intervenções terapêuticas de autocuidado ou para compensar a incapacidade do utente em realizar autocuidado ou quando o utente necessita de orientação contínua no autocuidado.

No sistema parcialmente compensatório, a pessoa partilha responsabilidade nos autocuidados, assumindo os recursos que estão dentro das suas capacidades, é esperado que o utente e o enfermeiro se envolvam na realização do autocuidado do utente.

No sistema apoio educativo, a pessoa tem recursos para realizar autocuidado, necessitando apenas de apoio, orientação e ensino.

PROCESSO DE ENFERMAGEM

Segundo Potter e Perry (2000) processo de enfermagem é um processo intelectual, estruturado segundo etapas ordenadas, utilizado para planificar cuidados personalizados, visando a melhoria do estado de saúde da pessoa cuidada. Algumas das vantagens do processo de enfermagem são: 

  • Favorecer o cuidado do utente,
  • Organizar o cuidado prestado aos utentes,
  • Identificar as necessidades dos utentes determinando as que precisam de intervenção de enfermagem,
  • Permitir que os profissionais pensem antes de agir ou seja a realização de um planeamento.

O processo de enfermagem é uma competência que suporta a tomada de decisão, e que permite identificar, diagnosticar e tratar as respostas humanas à saúde e à doença. O processo de enfermagem está divido em 5 etapas:

  • Avaliação inicial
  • Diagnostico de enfermagem
  • Planificação dos cuidados
  • Implementação
  • Avaliação

A avaliação inicial é uma etapa que permite determinar o estado de saúde e estado funcional atual e anterior do utente, a mesma está dividida em duas fases. A primeira fase: colheita e verificação de dados a partir do próprio utente e de fontes secundarias como por exemplo família, equipa/profissionais de saúde ou mesmo até do processo clínico-evidências. A segunda fase: Analise de dados (atribuir significado) - inferência.

É necessário perceber as necessidades de cada individuo, como por exemplo os seus problemas, as suas alterações de saúde e respostas a esses problemas, também é necessário entender as expectativas dos utentes em relação aos cuidados de saúde que vão ser prestados pelo/a enfermeiro/a (Potter e Perry, 2000)

O diagnóstico de enfermagem é o juízo clínico sobre as reações individuais, familiares ou comunitárias aos problemas de saúde reais ou potenciais, e aos processos de vida.

Os diagnósticos identificados pelo enfermeiro, serão passiveis de orientar um conjunto de intervenções capazes de produzir os efeitos desejados e determinar os resultados de uma enfermagem esperada (Potter e Perry 2000).

Da colheita de dados ao diagnóstico de enfermagem:

 Colheita de dados inicial

  • Colheita de dados
  • Análise dos dados
  • Agrupamento das informações

 Possíveis diagnósticos

  • Considerar todos os diagnósticos possíveis que combinem com as informações disponíveis

Colheita de dados em profundidade

  • Colheita de dados focada
  • Análise dos dados
  • Confirmação ou rejeição dos possíveis diagnósticos
  •  Diagnóstico de enfermagem
  • Determinação dos diagnósticos de enfermagem prioritários

Diagnóstico de enfermagem

  • Juízo clínico
  • Baseado na colheita e análise de dados
  • Enunciado simples e preciso
  • Perspetiva holística da pessoa ou do grupo
  • Descreve a resposta da pessoa a uma experiência do ciclo de vida
  • Problemas poderão ser reais ou potenciais
  • Servem de base para escolher as intervenções de cuidados
  • Provém do papel autónomo do enfermeiro

A planificação de cuidados consiste em estabelecer um plano de ação, prever as etapas da sua realização, os gestos a fazer, os meios a disponibilizar as precauções a tomar, logo, a conceber e organizar uma estratégia de cuidados bem definida, estabelece objetivos e resultados esperados centrados na pessoa e planeia intervenções que vão resolver os problemas e atingir os objetivos esperados Potter e Perry (2000).

As intervenções são qualquer tratamento, baseado no julgamento e conhecimentos clínicos, realizado por um enfermeiro para aumentar os resultados do utente. Para selecionar o tipo de intervenções a ser usadas implica o conhecimento científico que justifica a intervenção (Prática baseada na evidência), implica também habilidades psicomotoras e interpessoais necessárias (Competências do enfermeiro) e por fim é também necessária a capacidade de funcionar num contexto específico usando de maneira efetiva os recursos de cuidados disponíveis (Adequar ao contexto e recursos) Potter e Perry (2000).

Durante a implementação dos cuidados o enfermeiro é responsável por ter o conhecimento e a competência clínica necessária à realização das intervenções de forma segura e efetiva.

Na avaliação do processo o enfermeiro deve: determinar o quanto os resultados foram alcançados e os ganhos de saúde obtidos, comparar os ganhos obtidos com os resultados esperados, identificar os fatores que afetaram a consecução dos objetivos, instituir, caso necessário, as medidas corretivas no planeamento de cuidados.

O processo de enfermagem é algo essencial, para a prática de enfermagem, todas as etapas do processo são essenciais para a prestação de cuidados de excelência. O enfermeiro deve ter um pensamento crítico constante durante todo o processo de enfermagem, com o objetivo de suportar a sua tomada de decisão.

André Pereira Nogueira
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra
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